Homenagem aos maiores FOTÓGRAFOS do Brasil e do mundo.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Morre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado

Legenda da foto, Economista de formação, Salgado começou a fotografar no início da década de 1970 na França, onde vivia desde então, e nunca mais parou

Publicação compartilhada do site BBC BRASIL, de 23 de maio de 2025

Morre Sebastião Salgado, o fotógrafo que retratou o Brasil para o mundo

Morreu nesta sexta-feira (23/5) o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, na França. Ele tinha 81 anos e vivia em Paris.

Nascido no Vale do Rio Doce, no município mineiro de Aimorés, o estilo do seu trabalho é permeado por sua infância no Brasil rural.

Ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira, Salgado alcançou fama internacional por suas extraordinárias composições em preto e branco, em que captava tanto as maiores belezas naturais, quanto as maiores atrocidades promovidas pelos homens.

"Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", diz a nota do Instituto Terra.

Criado por Salgado e sua companheira, Lélia, a ONG, com sede em Aimorés, se dedica à recuperação e restauração do meio ambiente, em especial da Mata Atlântica.

Economista de formação, Salgado começou a fotografar no início da década de 1970 na França, onde vivia desde então, e nunca mais parou.

Trabalhou para as agências Sigma, Gamma e Magnum. ⁠Atualmente, as fotos de Salgado fazem parte das coleções de numerosos museus e instituições importantes ao redor do mundo.⁠

Era imortal da Academia de Belas Artes da França desde 2017. E recebeu os mais importantes prêmios da fotografia mundial. Dentre eles, o Prêmio W. Eugene Smith de Fotografia Humanitária, o World Press Photo, o Hasselblad, o prêmio Jabuti na categoria reportagem e foi o primeiro fotógrafo a receber o Príncipe de Astúrias das Artes, na Espanha.

Recentemente, o concurso Sony World Photography Awards 2024 premiou o fotógrafo brasileiro por sua "destacada contribuição à fotografia".⁠⁠

"Suas imagens, expostas em importantes instituições culturais e destacadas em publicações de todo o mundo, se transformaram em um símbolo do jornalismo fotográfico contemporâneo", escreve a Organização Mundial de Fotografia.⁠

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No ano passado, o The New York Times incluiu uma foto de Salgado em uma seleção com as "25 fotos que definem a idade moderna".

A imagem escolhida foi uma das que o fotógrafo fez em Serra Pelada, no Pará, em 1986, quando o local foi descoberto pelo garimpo, atraindo um formigueiro de gente.

"Um dos aspectos mais impressionantes das fotografias de Sebastião Salgado de uma mina de ouro a céu aberto no Brasil é a escala. Milhares de homens — com os corpos curvados e frágeis — são reproduzidos em miniatura contra o pano de fundo de uma enorme mina na terra", publicou o jornal.

O trabalho em Serra Pelada também lhe rendeu um livro, um dos muitos publicados pelo fotógrafo. Dentre eles Terra, Êxodos, Gênesis, Amazônia, Outras Américas de Da Minha Terra à Terra.

'Perdi um amigo': as despedidas de Salgado

Logo após a notícia da morte de Sebastião Salgado ser confirmada, as homenagens começaram a ser publicadas nas redes sociais.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) emitiu uma nota em que se diz "profundamente triste".

"Seu inconformismo com o fato de o mundo ser tão desigual e seu talento obstinado em retratar a realidade dos oprimidos serviu, sempre, como um alerta para a consciência de toda a humanidade", escreveu Lula.

"Salgado não usava apenas seus olhos e sua máquina para retratar as pessoas: usava também a plenitude de sua alma e de seu coração. Por isso mesmo, sua obra continuará sendo um clamor pela solidariedade. E o lembrete de que somos todos iguais em nossa diversidade."

A Academia de Belas Artes da França comunicou a morte de Salgado "com profundo pesar". A Agência Magnum publicou uma foto de Salgado em homenagem a ele, e outras autoridades lamentaram o falecimento do fotógrafo.

"Eu perdi um amigo. O Brasil perdeu um dos maiores expoentes da fotografia mundial. A morte de Sebastião Salgado deixa uma lacuna irreparável no jornalismo brasileiro", escreveu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em sua conta no X.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, chamou Salgado de "grande artista" e "um dos patrimônios culturais brasileiros".

Barroso contou sobre um "episódio anedótico" baseado nas fotos de Salgado que existem no Supremo, duas delas, na sala do ministro. "Uma da Floresta Amazônica e a outra era uma canoa com dois indígenas de costas e nus. E era exatamente onde se tirava as fotos oficiais no meu gabinete. Um dia me dei conta de que todas as fotos oficiais tinham dois índios nus atrás. Aí pedi para colocar outra foto da Floresta Amazônica. Mas apenas para registrar que ele é tão querido e admirado, que no gabinete do presidente do Supremo tem duas fotos dele. E espalhadas pelo Supremo tem muitas outras", contou o ministro, por meio de nota.

A ministra do Supremo Cármen Lúcia também emitiu uma nota falando em uma "enorme perda para o Brasil e para essa humanidade tão precisada de grandes humanidades como o Tião. Sebastião era Salgado apenas no sobrenome: um ser humano a mostrar uma doçura total, mesmo nas denúncias fotografadas das indignidades e feridas do mundo."

"Sebastião Salgado fez de sua arte, a fotografia, um poderoso instrumento de denúncia contra a desigualdade. No Brasil e em todos os lugares do planeta que suas lentes alcançaram, fez o registro das injustiças, mas também mostrou a força dos mais fracos na luta coletiva pela vida e pela transformação. Foi um brasileiro que serviu ao mundo", escreveu a ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, emitiu uma nota dizendo que Sebastião Salgado "fez história com a arte de capturar questões sociais, culturais, ambientais e humanas.

Texto e imagem reproduzidos do site: www bbc com

Sebastião Salgado (1944 - 2025)



Biografia compartilhada do site EBIOGRAFIA

Sebastião Salgado - Fotógrafo brasileiro

Por Dilva Frazão (Biblioteconomista e professora)

Biografia de Sebastião Salgado

Sebastião Salgado (1944-2025) foi um fotógrafo brasileiro considerado um dos maiores talentos da fotografia mundial pelo teor social de seu trabalho.

Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em Aimoré, Minas Gerais, no dia 8 de fevereiro de 1944.

Passou sua infância na Fazenda Bulcão, na cidade de Aimorés em Minas Gerais, e parte de sua juventude em Vitória, no Espírito Santo. Formou-se em Economia na Universidade do Espírito Santo em 1967.

Em 1968, Salgado fez seu mestrado na Universidade de São Paulo. No mesmo ano, casou-se com a arquiteta e ambientalista Lélia Deluiz Wanick. Em 1969, perseguido pelo regime militar, mudou-se para Paris, onde fez seu doutorado.

Entre 1971 e 1973, Salgado trabalhou como secretário para a Organização Internacional do Café, em Londres. Em uma viagem para Angola, África, onde coordenou um projeto sobre a cultura do café, passou a fotografar como hobby.

Carreira de fotógrafo

Em 1973, de volta à Paris, Sebastião Salgado iniciou sua carreira como fotógrafo profissional. Como freelancer fez reportagens fotográficas para as agências Gamma, Sygma e Magnum.

Na Gamma, ele registrou imagens da Revolução dos Cravos. Na Sygma, fez o registro de vários eventos em mais de vinte países. Na Magnum, realizou viagens pela América Latina, entre 1977 e 1984.

Em 1981, trabalhando como repórter fotográfico do jornal New York Times, foi encarregado de registrar os primeiros 100 dias do governo do presidente Ronald Reagan.

Foi o único profissional a registrar o atentado ao presidente norte-americano Ronald Reagan, no dia 31 de março de 1981, fato que lhe deu destaque internacional.

Em 1986, publicou o livro “Outras Américas” que registrou as fotos que representavam as condições de vida dos camponeses e dos índios da América Latina.

Durante 15 meses, Salgado trabalhou com o grupo francês Médicos Sem Fronteiras, percorrendo a região do Sahel, na África registrando a devastação causada pela seca. Em 1986, publicou “Sahel: O Homem em Agonia”.

Entre 1986 e 1992, Sebastião Salgado produziu a série “Trabalhadores”, em que documentou o trabalho manual e as árduas condições de vida dos trabalhadores em várias partes do mundo.

Serra Pelada

Em setembro de 1986, o fotógrafo passou 33 dias nas minas de Serra pelada, no Estado do Pará, onde estava instalada a maior mina de ouro ao céu aberto do planeta.

Sebastião Salgado registrou o dia a dia de mais de 50 mil homens que viviam em condições desumanas, formando um verdadeiro formigueiro humano, dentro de um buraco que chegava a 200 metros de profundidade.

Em 1994, criou a empresa “Amazonas Imagens”, para gerenciar e publicar os seus trabalhos. Sua esposa é a autora do projeto gráfico da maioria de seus livros.

Em seu livro “Terra”, publicado em 1997, a temática foi o problema da questão agrária no Brasil.

Êxodos

Entre 1993 e 1999, Salgado viajou por diversos países e fotografou a luta dos imigrantes, que resultou no livro “Êxodos”, publicado em 2000.

Na introdução do livro, escreveu:

“Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoa fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas...”

Gênesis

O projeto Gênesis foi iniciado em 2004, concluído em 2012 e publicado em 2013. No trabalho, em viagem para diversas partes do mundo, Sebastião capturou toda a beleza da natureza e da cultura de povos que continuam vivendo de acordo com suas antigas tradições.

Prêmios e honrarias

Prêmio Eugene Smith de Fotografia Humanitária (EUA, 1982)
Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes, 1998
Prêmio Unesco para Iniciativas Bem-Sucedidas” (1999)
Prêmio World Press Photos
Medalha de prata Art Directors Oub nos Estados Unidos
Foi eleito membro honorário da Academia Americana de Artes e Ciências, EUA
Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Espírito Santo (2016)
Eleito para o Quadro de Cadeiras de Fotógrafos da Academia de Belas Artes da França (2017)
Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão (2019)
O Sal da Terra (filme)

Em 2014 foi lançado o documentário “O Sal da Terra”, produzido por Juliano Salgado, filho de Sebastião, juntamente com o fotógrafo Wim Wenders.

O Sal da Terra relata a trajetória do fotógrafo desde seus primeiros trabalhos em Serra Pelada, a miséria na África e no Nordeste do Brasil, até sua obra-prima, “Gênesis”.

O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário de 2015.

Contribuições humanitárias

Sebastião Salgado contribuiu com organizações humanitárias, entre elas: o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional.

Instituto Terra

Em abril de 1998, Sebastião Salgado e Leila fundaram o Instituto Terra, uma Organização Não Governamental (ONG) para recuperar a Mata Atlântica e as nascentes da antiga Fazenda Bulcão, local onde Salgado passou a infância com sua família.

A fazenda, com mais de 600 hectares de terra, que está localizada em Aimorés, no leste de Minas Gerais, nas margens das nascentes que formam o córrego Bulcão, um dos afluentes do Rio Doce, foi utilizada para a criação de gado e estava bastante degradada.

A atuação do Instituto foi ampliada posteriormente para outras regiões, com o apoio da mineradora Vale do Rio Doce. As mudas utilizadas no reflorestamento foram produzidas nos viveiros da própria ONG.

Com o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015, os rejeitos percorreram 22 km no rio do Carmo e alcançaram o rio Doce, deslocando-se pelo seu leito até desaguar no Oceano Atlântico, no distrito de Regência, no município de Linhares (ES).

O rompimento causou enorme destruição por onde passou. O Instituto Terra mobilizou sua equipe para o desenvolvimento de um projeto de recuperação do Rio Doce, em parceria com a empresa mineradora Vale do Rio Doce.

Morte 

Sebastião Salgado faleceu em Paris, França, no dia 23 de maio de 2025, com 81 anos.

Obras de Sebastião Salgado

Outras Américas (1986)
Serra Pelada (1999)
Êxodos (2000)
O Fim da Pólio (2003)
Um Incerto Estado de Graça (2004)
O Berço da Desigualdade (2005)
África (2007)
Gênesis (2013)
Perfume de Sonho (2015)
Gold (2019)
Amazônia (2021)

Texto reproduzido do site: www ebiografia com/sebastiao_salgado

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Morre o fotógrafo Oliviero Toscani...

 



Texto compartilhado do site METRÓPOLIS, de 13 de janeiro de 2025 

Morre o fotógrafo Oliviero Toscani; relembre seus trabalhos polêmicos

Por Ilca Maria Estevão

Fotógrafo italiano deixa legado de reflexão e ousadia na moda, especialmente por sua icônica parceria de décadas com a Benetton

O mundo da moda perdeu, nesta segunda-feira (13/1), Oliviero Toscani, fotógrafo italiano que revolucionou a indústria com campanhas provocativas, com destaque para seu trabalho na Benetton. A morte do fotógrafo, aos 82 anos, acontece após anos de luta contra a amiloidose, doença rara que o fez perder 40 quilos em um ano.

Fotógrafo iniciou cedo sua carreira na arte

Oliviero Toscani ganhou reconhecimento internacional por seu trabalho à frente das campanhas da marca italiana Benetton, iniciadas na década de 1980. Na grife, o fotógrafo se tornou conhecido pelos cartazes publicitários, nos quais abordou temas polêmicos como racismo, Aids, desigualdade e conflitos globais, usando a moda como um meio para reflexão.

Uma de suas campanhas mais lembradas à frente da Benetton mostrava três corações humanos identificados por etiquetas que diziam “Branco”, “Preto” e “Amarelo”, defendendo a igualdade entre raças.

Um trabalho polêmico foi divulgado em 1991 e consistia em uma imagem de um bebê recém-nascido, ainda preso ao cordão umbilical. De acordo com a Benetton, a campanha representa um “hino à vida”, mas não foi bem recebida pelo público, tendo sida retirada de circulação.

Oliviero Toscani na moda

Nascido em Milão em 1942, Toscani era filho de fotojornalista e cresceu imerso no mundo da arte. Estudou fotografia e design gráfico em Zurique, na Suíça, e rapidamente se destacou por seu olhar questionador. Além da Benetton, colaborou com marcas como Chanel e Valentino, e suas imagens apareceram em publicações como Vogue e Elle.

Outro trabalho de grande sucesso — e cercado de controversas — foi a campanha publicitária com a comediante francesa e portadora de anorexia Isabelle Caro, lançada em setembro de 2007. A fotografia mostrava a jovem completamente nua, com as palavras “No Anorexia” e tinha como objetivo conscientizar o público e a indústria sobre essa doença que se alastrava entre modelos.

A campanha foi veiculada em grandes cartazes publicitários e outdoors nas ruas das principais cidades italianas e em uma página dupla do jornal La Repubblica.

“É muito interessante que finalmente uma empresa tenha entendido a importância do problema e tenha tido a coragem de se expor sobre este tema”, explicou Toscani em comunicado.

Seu questionamento às normas sociais inspirou marcas e artistas

Mesmo afastado do mercado da moda em seus últimos anos de vida, Oliviero Toscani continuava sendo uma referência para profissionais da moda e da publicidade. Sua narrativa visual e impacto na indústria são, há décadas, exemplos de sucesso de uma fotografia de moda consciente e sensível aos temas sociais importantes, muitas vezes negligenciados por marcas de moda.

Texto e imagens reproduzidos do site: www metropoles com

terça-feira, 23 de abril de 2024

FOTOJORNALISMO > 'Um Rápido Olhar' por Arthuro Paganini

FOTOJORNALISMO > 'Um Rápido Olhar' por Arthuro Paganini  

Arthuro Paganini é jornalista. Formado em 2005 pela Universidade Tiradentes, atuou na área de jornalismo a partir do 5 período, quando trabalhou em assessorias de imprensa. Desde então, mesmo redigindo matérias, ele, por vezes, ousava fotografar. Sempre apreciou a fotografia, considerando esta um elemento a mais de valorização do texto. 

Em maio de 2012 comprou seu próprio equipamento e decidiu trabalhar exclusivamente na área de fotografia. Não abandonou o texto - mantém um blog chamado Diário de Foto, porém foi na fotografia que ele decidiu manter-se profissionalmente.

Texto reproduzido do site: arthuropaganini wixsite com/fotografia

'LUGARES', por Arthuro Paganini (fotos de Aracaju)





Texto reproduzido do site: arthuropaganini wixsite com/fotografia

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'LUGARES', por Arthuro Paganini (fotos de Aracaju)

F/1 - Orlinha do bairro Industrial, banhada pelo rio Sergipe;

F/2 - Vista noturna da Avenida Beira Mar, bairro 13 de julho;

F/3 - Vista noturna da Praça Fausto Cardoso;

F/4 - Cidade de Aracaju, banhada pelo rio Sergipe.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

ARTIGO > 'Fotógrafos geniais', por Marcos Melo

Crédito da foto: Internet/Ilustração

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 18 de novembro de 2022

Fotógrafos geniais
Por Marcos Melo

Hoje em dia somos todos fotógrafos! Amadores, claro. Digo todos, pois, com raríssimas exceções, temos uma câmera no celular que tira fotos de boa qualidade. A fotografia é, portanto, uma atividade prazerosa disseminada, popularizada, quando, há poucas décadas, era uma arte exclusiva de profissionais, que exerciam o ofício apetrechados das excelentes máquinas fotográficas alemãs e japonesas, aparelhagens acessórias e estúdios com câmeras escuras para a revelação dos filmes.

Tudo isso é coisa do passado. A Kodak, gigante mundial na produção de filmes, não acompanhou a evolução tecnológica do setor e entrou em processo falimentar, já que a era da revelação do negativo está no fim.

Sim, somos todos fotógrafos, mas sem o talento, as qualificações, os enquadramentos, a técnica e o foco de um Sebastião Salgado, Henry Cartier-Bresson, Lineu Lins de Carvalho, Walmir Almeida e Volfano Gaspar, apenas para citar estes.

Internacionalmente conhecido, o mineiro Sebastião Salgado rodou o mundo clicando suas mazelas, humanas e ambientais. Sua arte é um forte libelo contra os desníveis sociais. A sua famosa foto sobre a mineração do ouro em Serra Pelada recebeu várias premiações internacionais. É doutor honoris-causa pela Havard University (2021) e por universidades brasileiras. Já o francês Cartier-Bresson foi o fotógrafo da realeza e aristocracia europeias. Clicou em diversos países para as famosas revistas Life, Vogue e Harper’s Bazar. Fotografou os últimos dias de Gandhi.

Os sergipanos Lineu Carvalho e Walmir Almeida são os papas da moderna fotografia em nosso Estado. Ambos craques em captar o essencial, o ponto certo no momento certo. Pelas suas lentes, Aracaju recebeu um tratamento fotográfico de mestres. Tanto Lineu como Walmir sabiam tudo de fotografia aérea. A nossa capital nunca foi tão bem fotografada pelo ar e em movimento, como pelas suas objetivas.

Aliás, Walmir era piloto brevetado, com muitas horas de voo, o que facilitava seu trabalho. Já Lineu, embarcado nos helicópteros da Petrobras, fez inúmeras fotos a serviço da petroleira, em terra e mar. Aproveitava os voos para fazer imagens da cidade. São registros que mostram a evolução urbana de Aracaju, cujo acervo, cerca de 25 mil fotos, encontra-se na UNIT à disposição de estudiosos e historiadores.

Eles também registraram com suas câmeras acontecimentos sociais como casamentos, aniversários, festas tradicionais, inaugurações de empresas, de edifícios, de obras públicas etc. Walmir, além de fotografo era cinegrafista, e dos bons. Seu documentário sobre a seca, apresentado em Porto Alegre, impressionou o presidente João Goulart que o convidou para acompanhá-lo em uma viagem ao Chile e Uruguai. Fui seu cliente, mas de discos de jazz, que ele vendia em sua loja – Cine-foto Walmir – na Rua de Propriá, em frente ao icônico restaurante Cacique Chá.

Ainda menino, conheci o adolescente Lineu em Propriá, quando sua família foi morar na rua da Capela, onde eu residia. Isto em razão de seu Lins, pai de Lineu, ir gerenciar uma agência bancária na cidade, acho que do Banco Mercantil Sergipense ou do Banco Rezende Leite, não lembro qual. Lineu foi o primeiro fotógrafo sergipano a usar câmera digital, novidade à época. Era ligado em jazz. Fã de John Coltrane. Morávamos quase vizinhos, na Av. Acrísio Cruz, e trocávamos figurinhas em matéria de som e de jazz.

E o que dizer do propriaense Volfano Gaspar, o popular Faninho? Ele era mais que um fotógrafo. Fotografava e retocava a foto, em cores. Aliás, qualquer foto, de qualquer idade. O retoque era precisamente seu pulo-do-gato, sua especialidade. Isto com a precária tecnologia da época. Ele não chegou a conhecer as fotos shops digitais. Se as conhecesse daria um show de bola. Sua clientela eram os sertanejos, especialmente os prefeitos e vereadores que compravam sua incrível arte.

Às vezes havia reclamações de clientes mais exigentes: “E este sou eu mesmo?” Claro que é! Olhe bem! Apenas reduzi o tamanho das orelhas e coloquei um pouco de cabelos na calva para o distinto ficar mais bonito. “Mas eu não tenho os olhos azuis!” Consertei esse grave defeito de nascença com este belíssimo retrato, que irá dar outra vida a seu gabinete de trabalho. Aliás, se eu fosse o senhor encomendaria mais algumas cópias para presentear parentes e amigos.

Não é a toda hora que fazemos um serviço dessa qualidade. Foram três dias combinando as mais lindas cores para melhor realçar sua forte personalidade. Veja como suas novas feições estão inspirando mais confiança e respeitabilidade, além de ter remoçado pelo menos uns quinze anos. Com um retrato desses nas ruas e nos povoados ninguém perde uma eleição. E ali mesmo Faninho fazia novos clientes, principalmente os candidatos a vereador.

As mulheres, é claro, compunham expressiva fatia de sua clientela. Não bastasse o charme pessoal e a conversa fácil, ele as fazia mais jovens e mais bonitas. Morenas ficavam claras, brancas tornavam-se louras, negras eram tingidas por uma cor que as deixavam pubas. Houve casos milagrosos de estrábicas ficarem com a visão centralizada. Na verdade, Volfano Gaspar era uma espécie de Ivo Pitangui da fotografia. Enquanto o famoso cirurgião plástico retocava a/o paciente na carne, Faninho retocava a imagem, com resultados fantásticos, talvez melhores que o bisturi de Dr. Pitangui. Se se conhecessem, certamente teriam feito uma memorável parceria. Faninho planejando as incisões e Pitangui lancetando.

Antes de se tornar o fotógrafo do sertão, Faninho foi assistente de topógrafo na Comissão do Vale do São Francisco. Mas essa é outra história.

* Marcos Melo é Professor emérito da UFS e membro da ASL.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

sexta-feira, 11 de março de 2022

Ícone do fotojornalismo brasileiro, Orlando Brito morre aos 72

Fotojornalista Orlando Brito, em imagem publicada por ele em rede social em 2022
Foto: Instagram/Reprodução 
 

Legenda da Foto: Ulysses Guimarães na rampa do Congresso, em imagem do fotógrafo Orlando Britto — (Crédito da Foto: Reprodução/site da Câmara dos Deputados) 

 

Publicado originalmente no site G1 GLOBO, em 11 de março de 2022 


Ícone do fotojornalismo brasileiro, Orlando Brito morre aos 72 anos em Brasília

 

Repórter fotográfico e editor, ele passou por algumas das principais publicações do país, ganhou prêmios nacionais e internacionais e publicou seis livros. 


Por g1 — Brasília 


Referência do fotojornalismo no Brasil, o fotógrafo Orlando Brito morreu nesta sexta-feira (11) em razão de complicações decorrentes de uma cirurgia de intestino. 


Ele tinha 72 anos e estava internado no Hospital Regional de Taguatinga, no Distrito Federal. Separado, deixa uma filha, Carolina, e dois netos, Theo e Thomas. 


Durante a carreira, Orlando Brito registrou presidentes, políticos e personalidades do poder, contando por meio de imagens parte da história política do Brasil, desde os anos 1960. Também produziu um acervo de fotografias de cidadãos comuns, indígenas e expoentes do mundo esportivo e cultural, além de ter viajado por mais de 60 países e acompanhado copas do mundo de futebol e jogos olímpicos. 


Em 1979, quando atuava no jornal "O Globo", se tornou o primeiro brasileiro premiado no “World Press Photo Prize” do Museu Van Gogh, de Amsterdã, na Holanda, o mais prestigiado prêmio de fotojornalismo do mundo. Ele obteve o primeiro lugar na categoria "Sequências", com uma sucessão de fotos sobre um exercício militar intitulada "Uma missão fatal". 


No Prêmio Abril de Fotografia, Brito foi considerado "hors concours", depois de ganhar por 11 vezes. 


Também publicou seis livros de fotografia, entre os quais “Poder, Glória e Solidão”, no qual retrata episódios e personalidades da história política do Brasil... 


Trajetória 


Orlando Péricles Brito de Oliveira nasceu em 1950, em Janaúba, Minas Gerais. Começou a carreira em 1964, aos 14 anos, como laboratorista no jornal “Última Hora”.

 

Depois trabalhou como repórter fotográfico e editor de fotografia. Passou pelas redações de “O Globo”, "Jornal do Brasil" e revistas "Caras" e "Veja" — nesta última, em dois períodos diferentes. Ao deixar a revista, criou a agência de notícias Obrito News. 


Em entrevista ao programa “Trilha das Artes”, da rádio Câmara, da Câmara dos Deputados, foi questionado se tinha a fotografia como "paixão". Disse que esta seria “uma das primeiras e talvez uma das únicas”. 


“A fotografia é tudo para mim, é o que me trouxe até aqui. Eu não consigo enxergar nada sem ser pelo ângulo fotográfico, visual, estético. Então, eu não consigo fazer nada que não passe, que não toque, no tema fotografia”, declarou Brito na entrevista à rádio. 


Segundo afirmou à rádio, fotógrafo não escolhe o que fotografar. 


“Um fotógrafo — especialmente os de notícias — não tem como escolher temas. Ele está ali de acordo. Ele não age. Ele reage às pautas que vêm a ele”, afirmou. 


Durante a carreira, Brito testemunhou diversos momentos históricos, entre os quais o fechamento do Congresso Nacional em 1977, na ditadura militar, durante o governo do general Ernesto Geisel. 


Em depoimento para um documentário da TV Senado, disse que, na ocasião, quis mostrar por meio de uma imagem aquele episódio da vida política brasileira. 


"Eu saí, subi a escada, fui lá em cima e fiz mais dois cliques com uma grande angular, mostrando a solidão do plenário", afirmou. 


Em 8 de outubro de 1992, clicou o então deputado Ulysses Guimarães na rampa do Congresso. Quatro dias depois, o parlamentar, presidente da Assembleia Nacional Constituinte e apelidado de "Senhor Diretas", morreu em um acidente de helicóptero na baía de Angra dos Reis. 


Nos últimos 55 anos, Orlando Brito registrou todas as posses presidenciais — desde o ex-presidente Arthur Costa Silva, em 1967, até Jair Bolsonaro, em 2019. 


Em 2011, Brito fez uma das últimas fotos do ex-presidente Itamar Franco. Em um podcast, disse que o “ar estranho” do então senador por Minas Gerais o motivou a fazer o registro. 


"Aquele ar estranho me levou a fazer uma fotografia. Uma foto triste e surpreendente. Foi a última imagem que eu fiz do doutor Itamar. Horas depois, ele seria internado, em São Paulo, e viria a falecer de leucemia aos 81 anos", relatou. 


Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com